Texto de António Sousa Leite:
Deus castigou-me. E porque acredito que o de lá do alto, tendo todo o Universo para gerir, também tem o direito de não ler atentamente um texto em mais um desses blogs que pelo mundo existem, volto a repetir que nada tenho contra a plebe, que a acho necessária para a harmonia do mundo (desde que a uma certa distância, está claro), que a plebe ajuda a transmitir alegria ao dia-a-dia.
Mas que castigo foi afinal esse?, perguntar-se-ão os leitores. Fui eu, e foi uma turma inteira, o alvo das “peixeiradas”. Aconteceu essa fatalidade depois de almoço, na Microlândia, no Arrábida Shopping, na Antiga, Mui Nobre, sempre Leal e Invicta Cidade do Porto (considero um bairrismo perfeitamente plebeu continuar a considerar Porto, aquela a que chamam Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Gondomar, Maia, enfim, todas essas cidadelas, como terreolas isoladas e não como uma metrópole vanguardista, com plebe q.b. a um canto, para animar a rotina monótona das nossas vidas). Continuando, aconteceu depois de almoço, pelo que ainda estou com uma volta no estômago. Um bando de indivíduas, já não de puro-sangue peixeira (PSP), mas com uma forte mistura de plebe de movimento, talvez meio-sangue peixeira, ou cruzado peixeira com plebe de movimento e plebe de intelecto, de terrível aspecto físico, enfim, pequenos monstros:
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse, «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo,
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse,
«El-Rei D. João segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»
Esta é sem dúvida uma boa descricção do que se passou, pelo nosso grande Fernando Pessoa, do seu livro “Mensagem”, que aconselho todos a ler, aconselhando também aos mais sensíveis que se deixem ficar por esta poética versão dos factos, pois o que a seguir vão ver, a terrível verdade, a triste verdade, pode chocá-los e fazê-los ter pesadelos esta noite. Aos mais corajosos, apenas lhes desejo o seguinte: “Boa sorte, e que Deus esteja convosco para superarem este obstáculo com êxito”
terça-feira, 9 de janeiro de 2007
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